ECOS DO II FORO WRESINSKI PARA AMERICA LATINA E CARIBE

O II Foro Joseph Wresinski para América Latina e Caribe teve lugar em outubro de 2018 na Cidade de Guatemala. Durante cinco dias, trabalharam conjuntamente pessoas de todos os países da região nos quais ATD Quarto Mundo está presente: quase 50 participantes de nove países se reuniram para repensar juntos a luta contra a pobreza e os direitos humanos, de acordo com o expressado no nome do foro.

Pessoas em situação de pobreza, ativistas, profissionais e acadêmicos, confrontaram idéias e refletiram além da sua diversidade para desenvolver um conhecimento sobre a pobreza e contribuir com uma dinâmica de intercâmbio entre pessoas de diferentes países da América Latina e do Caribe. Na espera de um documento que apresente formalmente os frutos deste foro, aqui apresentamos algumas poucas fotos e os primeiros testemunhos de alguns dos participantes.

Blanca Méndez
Membro ATD Quarto Mundo/Escuintla, Guatemala.

“Quando cheguei ao foro estava muito triste, porém a atitude de participantes como Fernando e Sebastião, me deu forças e energia. Além do mais, senti que a minha participação era importante, senti respeito e educação desde o momento em que cada um se apresentou até a noite cultural na qual aprendi as danças da Bolívia e a Guatemala e os poemas de Honduras e México. Não sei ler, porém minha cabeça é como um gravador que guarda tudo. Muito obrigada por ter me convidado”.

Fernando Monteiro dos Santos
Associação Thydêwa/ Pernambuco, Brasil.

“Foi um encontro muito importante para nós, muito bom e proveitoso. Na minha volta falei com um grupo de educadores em uma formação da nossa aldeia e com mais de 40 líderes indígenas do Estado de Pernambuco. Falei da nossa experiência na Guatemala, e passei para eles um pouco do meu entendimento do encontro.

Minha participação no grupo me sensibilizou muito. Fiquei muito triste pela situação de duas mulheres… do que acontece nas comunidades delas, pela falta de educação e saúde… Temos que ter uma visão e rezar muito para que as coisas mudem para o bem”.

Inga Ruiz Valladares
Membro de ATD Quarto Mundo/ Novo México, EEUU

“É muito importante exercitar primeiro nossa capacidade de escutar. Ao mesmo tempo é necessário encontrar espaços comuns para construir um pensamento coletivo e transmissível que vai nascer do valor dado a conhecimentos e experiências individuais. A base está em aprender a nos escutar e perder o medo de falar.

Quando a discussão levou a nos perguntar o que são os direitos humanos entendi que além do conceito, levantar a nossa voz por uma vida digna para todos e todas, poderia contribuir ao desaparecimento gradativo da indiferença social que tem provocado o esquecimento de uma grande parte da população do mundo. Porém não basta somente falar, é essencial procurar para ser escutado”.

Federico Chipana Vargas
Coordenador Casa da Solidariedade Projeto de Vida/ El Alto, Bolívia

“Antes do evento, me sentia sozinho e quase desgastado nesse trabalho voluntário que realizamos na cidade de El Alto e tinha o sentimento de ser um louco fazendo um trabalho sem ser remunerado, somente com um apoio básico para mobilidade e em alguns casos para alimentação. Minha presença no II Foro Joseph Wresinski para América Latina e Caribe tocou meu pensamento e tem fortalecido o sentimento no meu coração: tem marcado e fortalecido minha luta, tenho me identificado muito com o trabalho de muitos participantes e isso me fez entender que não estou sozinho neste trabalho que realizo pelos mais necessitados e excluídos; me senti acompanhado. Também foi admirável e muito profundo escutar a juventude tão esclarecida, formada e madura. Temos visto que a formação da juventude deve ser a base para as mudanças nesta luta”.

Cristina de Mello Monteiro
Membro ATD Quarto Mundo/ Petrópolis, Brasil.

“Estou voltando fortalecida, com uma nova forma de ver a vida… pois sozinho nada pode ser conseguido, porém se um ajuda o outro, alguém mais ajudando outro alguém, independentemente do país, independentemente do lugar, aí saímos todos ganhando. Eu pensava que somente eu tinha passado por grandes dificuldades, porém hoje vejo que muitas pessoas também passam por elas. As pessoas neste encontro foram muito humanas, eram todas muito boas e eu gostei muito disso. Antigamente eu me sentida nada. As pessoas me olhavam, falavam entre elas e riam de mim… Aqui tenho voltado a sentir que sou um ser humano. Vou compartilhar tudo o que tenho aprendido, pois falando uns com os outros, vamos completando esta rede”.

Carolina Sánchez Henao
Observatório da Segurança Humana da Universidade de Antioquia/ Medellín, Colômbia.

“Durante o foro constatei como a luta contra a pobreza começa por reconhecer e recuperar ações, saberes e a capacidade de se mobilizar das pessoas que vivem em situação de pobreza. Além do mais, é necessário criar estratégias que logrem fortalecer nas comunidades a capacidade de se sentir sujeitos de direitos, já que este é o primeiro passo para a reivindicação e a exigibilidade. Ficou evidente durante o foro pela voz dos militantes: “nos escutem!”, “não necessitamos da sua misericórdia, necessitamos que nos compreendam”, seu tom reivindicativo, sustentado no saber que tem para entregar perante o que é a pobreza e às possibilidade de a transformar, é uma amostra da sua grande capacidade de luta a partir da sua experiência. Finalmente, está claro que necessitamos “escutar em igualdade”, ou seja, que os diversos atores envolvidos na luta contra a pobreza devem se reconhecer como partes, com a possibilidade de aportar desde onde estão localizados, porém trabalhando de forma colaborativa”.