Crianças que se encontram graças à poesia

Encontro com Nathalie Gendre, voluntária permanente de ATD Quarto Mundo

“Crianças que se encontram graças à poesia”, um livro co-escrito por Nathalie Gendre e Yves-Marie Fournier, acaba de ser publicado pela editora “Quart Monde” e relata uma experiência de atelier de escrita que, durante cinco anos, reuniu crianças vindas de escolas primárias e de escolas 2 e 3 (ou ginásios, como se diz no Brasil), da região de Antrain, numa zona rural francesa.

Qual era o objetivo deste atelier de escrita?

N. G.: Tratava-se de fazer com que crianças de todos os meios sociais se pudessem reunir. Houve 120 crianças que participaram entre 1995 e 1999, e metade delas pertenciam a famílias que viviam numa grande pobreza. O livro narra a experiência, e propõe também uma linha de conduta a pessoas que gostariam de realizar atividades culturais e artísticas com crianças e adultos, a fim de favorecer os contatos com os mais pobres. O que mais me impressionou foi o fato de o atelier ter permitido que certas crianças se revelassem, de as crianças se terem descoberto mutuamente num pé de igualdade e naquilo que elas têm de mais profundo. Havia uma mãe que dizia muitas vezes: «Todas as crianças têm qualquer coisa em comum.»

E como era o atelier?

N. G.: Durava 1h30, de quinze em quinze dias, numa das bibliotecas municipais da região. Entre duas sessões, íamos a casa de todas as famílias, e mais frequentemente a casa das mais isoladas, para fazermos o levantamento das ideias delas, para as associarmos ao nosso projeto e para convidarmos as crianças. Depois eu transmitia as coisas mais importantes ao resto da equipe. Graças a isso podíamos reajustar regularmente as atividades. Pouco a pouco, houve pais, bibliotecários e voluntários que nos vieram ajudar. Também tivemos a sorte de ter podido colaborar com o atelier de gravura da escola de Tremblay e isso veio enriquecer a expressão artística das crianças e favorecer uma maior abertura.

E porque é que o atelier acabou?

N. G.: Decidimos, com efeito, parar com esta atividade, apesar de haver uma vontade geral de que ela continuasse. O que nós queríamos era ver quais eram as condições necessárias para que as pessoas mais isoladas e aquelas que vivem perto delas se pudessem encontrar e reunir, para que depois todos se recusassem a admitir que houvesse pessoas a quem ninguém liga, e que é como se não existissem. Não se tratava de prolongar a atividade, mas de compreender o que é que pode facilitar o encontro, o que permite o desabrochar de cada um em união com todos os outros, e em que medida isso pode mudar o dia-a-dia das pessoas. Queríamos simplesmente ver quais eram os pontos mais importantes para que eles pudessem servir para outras pessoas irem ao encontro de todos sem nenhuma exceção.

O que é que se passou depois?

N. G.: Nunca me esqueço do que me dizem os jovens que agora já são adultos. Muitos deles contam como se sentiam orgulhosos por terem podido escrever, por terem podido mostrar aquilo de que eram capazes, não só sozinhos, mas também todos juntos. E como isso continua a ser importante nas suas vidas. Para mim é o que mais conta: que tenhamos vivido e realizado todos juntos coisas belas. Também me lembro do que me disse uma jovem participante que é agora estudante de economia social e familiar: «Não sei bem por que razão escolhi esta profissão, mas acho que foi graças àquela experiência do atelier. E tenho a certeza de que não irei exercer com a mesma maneira de ver de muitos outros colegas que se estão a formar comigo. Acho que o atelier me incutiu a noção de igualdade entre todos os seres humanos.» O que é certo é que o atelier abriu muitas portas. Graças a ele foi publicado um livro de poemas. Houve exposições e encontros noutras escolas, em bibliotecas, no Instituto Universitário de Formação dos Mestres (IUFM), etc. Desenvolveram-se parcerias com instituições e pessoas importantes, algumas das quais resolveram continuar a atuar para contribuírem para o sucesso escolar de todas as crianças. Criou-se um grupo de reflexão, composto nomeadamente por membros da Reitoria, do IUFM, da Universidade de Rennes II e do ATD Quarto Mundo. Este grupo produziu um DVD, acompanhado por material de formação pedagógica, chamado: “Até o modo de olhar mudou. Famílias, escola e grande pobreza: como desatar os nós da incompreensão”, destinado aos professores e difundido pelo centro regional de documentação pedagógica.

Para encomendar o livro (em francês): www.editionsquartmonde.org

Pour commander le livre : www.editionsquartmonde.org